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  • Foto do escritorSoul Paliativo

Vale a pena ser obstinado?


De fato, o avanço da ciência tornou realidade o aumento da expectativa de vida da população. Doenças que antes eram consideradas potencialmente fatais, hoje puderam ser categorizadas como crônicas. Porém, esses fatos construíram a falsa ideia de imortalidade uma vez que é creditado na ciência o aperfeiçoamento do corpo de forma ilimitada.


A nossa própria cultura gera distanciamento e repulsa pelo tema morte, sendo negado o que se é: a morte como uma das fases do ciclo natural da vida tanto quanto o nascimento. Nesse cenário, é comum a ocorrência da obstinação terapêutica, onde o cuidado deixa de ser centrado na pessoa em prol de se esgotarem as alternativas terapêuticas e diagnósticas com fim de curar e tratar a doença incurável e irreversível.


Porém, o prolongamento da vida a qualquer custo tem suas consequências. Exames desnecessários e tratamentos fúteis acabam por trazer danos físicos relacionados a procedimentos invasivos, efeitos colaterais e interações medicamentosas assim como danos emocionais para o paciente e família pela insatisfação e frustração com o resultado esperado não ser alcançado. Pacientes em fim da vida que são submetidos a esse prolongamento, comumente experimentam dor, solidão e angústia.


A manutenção da vida por meio de tecnologias quando equivale ao prolongamento do processo de morrer não é sinônimo de cuidado com qualidade nesses indivíduos. Perceba que utilizar de tratamentos que não vão trazer ganhos à qualidade de vida do paciente, é submetê-lo apenas a seus riscos, não trazendo a cura desejada e até mesmo prolongando o seu sofrimento.


Portanto, vale a pena considerar os Cuidados Paliativos, pois esta ciência prioriza o conforto do paciente, bem estar, funcionalidade e autonomia na sua jornada. É através da execução da dignidade que devemos passar por todos os ciclos da vida, inclusive o último deles, a morte.


Referências


DINIZ, Debora. Quando a morte é um ato de cuidado: obstinação terapêutica em crianças. Cadernos de Saúde Pública, v. 22, p. 1741-1748, 2006.


MONTEIRO, Filipe. Ventilação mecânica e obstinação terapêutica ou distanásia, a dialéctica da alta tecnologia em medicina intensiva. Revista portuguesa de Pneumologia, v. 12, n. 3, p. 281-292, 2006.


LIMA, Cristina. Medicina High Tech, obstinação terapêutica e distanasia. Medicina interna, v. 13, n. 2, p. 79-82, 2006.


PESSINI, Léo. A filosofia dos cuidados paliativos: uma resposta diante da obstinação terapêutica. Mundo saúde (impr.), p. 15-32, 2003.







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